28/03/2012

Da pele que há em ti eu já não sei nada



Porquê? Porquê minha querida, porque é que insistes em deixar-nos assim, aos poucos, dessa maneira que tão mal te faz, a ti e a nós?
Quanto mais te aproximas desse precipício para o qual insistes em caminhar a passos tão largos e decididos, mais nos dilaceras o coração. Não percebes o quanto te amamos e o quanto nos dói e preocupa essa tua gradual auto-destruição? 
Já não és uma criança I, aliás, deixámos de o ser juntas lembras-te? Os laços que nos unem não são apenas os de sangue, os de parentesco, são muito mais do que isso. São os laços que ligam duas meninas tão euforicamente felizes que brincam, correm, riem sem ter noção de que o tempo passa, passa veloz e imperativo, duas meninas que acham que vai ser assim para sempre, tão inocentes. São os laços de uma vida inteira partilhada, de uma cumplicidade sem igual que cresce com elas e não se esbate com o tempo.
E agora I, onde está essa inocência? Onde ficou perdida essa menina que era tão feliz e bonita? Agora tens uma pele e um rosto que não são teus. Um olhar vazio nesses olhos tão grande e expressivos que sempre te elogiaram.
A tua alegria deu lugar aos actos bruscos, desconhecidos por nós. Para trás ficaram todos os planos que tinhas, eram tantos minha querida. Porquê? O que vais fazer, agora que não queres nada senão essa vida que levas? Agora que mal te consegues levantar antes dos outros estarem a regressar da escola a que tanto te aplicavas e agora deixaste para trás? Agora que nunca falas, pensas ou ages com sobriedade por excesso ou falta dessas substâncias a que te agarraste de tal maneira que te tornaram noutra pessoa?
O que vais fazer tu? Continuar a caminha para esse abismo que parece não ter fim mas que te engole mais um bocadinho a cada dose? 
Tenho saudades do que eras, volta a ser tu minha querida, porque agora não os és, és alguém que não conheço mas que amo como amava aquela menina inocente, alguém que não conheço mas quero ajudar, que quero trazer de novo à vida. Ajudas-me a fazer isso?

2 comentários:

Mafalda Monteiro disse...

achamos que nunca nos toca a nós, que não ficamos agarrados. os vicios são-nos para toda a vida. é preciso força de vontade para acabar com eles, mas é preciso aínda mais força para nem sequer começar!
força, minha linda.

Susana disse...

Este texto disse-me muito, por motivos diferentes, mas disse. Não há muitas coisas piores que perder uma amizade assim.